sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Falt(ar)




Talvez não seja tão difícil entender que as pessoas acabam nos deixando hora ou outra, talvez seja até fácil. Acho que o difícil mesmo é viver isso e se perder em meio a tanta falta, falta que grita tão alto e aperta tão forte.

Um dia já foi tanto e hoje já não é. Certa vez foi tudo que eu precisava e hoje é tudo aquilo que não tenho e nem quero. Não falo de falta no sentido de perder, mas no sentido de deixar. De não mais existir... E ainda assim faltar. Ora, pra faltar é preciso que tenha existido e se falta é por deixar vazio um espaço que um dia foi completo.

Mas se existiu e hoje falta, é porque ainda existe. Nada do que deixou de fazer parte do presente precisa morrer e nem vai. O que fica vai além de um alguém, é muito mais que um porto ou um cais. Se falta é porque deixou um pouco de si para sempre dentro de mim.

O que me falta não é você, é o seu ar. Falt(ar)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Hoje ela sabe no que acredita.

Podia acreditar em fadas, duendes e príncipes... Sim, acreditava em papai Noel, nas mágicas, nas mentiras... Acreditava, sobretudo, naquilo que um dia disseram para ela: Não existe!

Acreditava tanto e com tal intensidade que duvidava da sua própria insanidade tão sã. De nada adiantava contestar. Em meio ao vazio que sempre lhe segurou com força e dedicação, sentiu a força do silêncio e o arrepio do ar gélido, sempre tão quente, sempre tão nada, sempre um ar de “pra sempre”... Que não existia.

Mas ainda assim acreditou, mas já não sabia no que.

Acreditava, talvez, em tudo que se fazia presente, mesmo que invisível, em tudo que não estava lá quando ela procurava.

Acreditava nas coisas simples, nas coisas mágicas, nas imperceptíveis.

Acreditou quando lhe disseram que as pessoas, no fundo bem fundo, são boas!
Acreditou... Mesmo que sua crença fosse a certeza de que aquilo não era real, não era possível, não era seu. Mesmo acreditando na mentira que fingia lhe convencer sempre.

Acreditava, sim, nas histórias tão bem contadas antes de dormir... Acreditou em tudo que lhe pediram para acreditar, em tudo que lhe era cabível, ou não!

Mas certo dia contestou a verdade do que lhe preenchia seu espaço, seu vazio. Ela acreditou em tudo... Pra sempre e sempre. Era isso.

E por mais que ainda não tenha achado ninguém pra lhe dar a mão e viver com ela pra sempre em mais um dia, nunca deixou de crer, de viver e de fazer disso o que te alimenta a alma.

Sim, ela bem sabe que o tal pra sempre pode, inevitavelmente, nunca bater à sua porta... Ou simplesmente brincar de aparecer por um tempo e depois partir... Mas do que importa? Não importa se é com ela... Não importa se um dia vai ver, não faz diferença se mais alguém acredita... É a sua verdade. Acreditar em amores eternos, acreditar no amor pra vida toda, fazer de encontros o seu encontrar-se. E daí se ela morrer tentando? Nada vai tirar da sua cabeça que o pra sempre existe, que as relações não precisam nascer com hora para morrer, que o amor, hoje em dia tão solúvel em nada, pode ser o que há de mais forte.

Sim, ela acredita no amor... Em contos de fadas, em príncipes encantados... Acredita em tudo que arranca de si um suspiro aliviado, um brilho indescritível nos olhos, um sorriso bobo, frações de segundos em silêncio, momentos pra não pensar em nada e se entregar aos devaneios.

Podem correr e dizer para ela mais uma vez: Não existe, boba! Digam quantas vezes forem necessárias, repitam até o ar faltar!

Hoje ela sabe no que acredita, acreditem!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Certeza é o chão de um imóvel, prefiro as pernas que me movimentam"


Certo dia eu quis lutar com algo inevitável... Eu quis acreditar que o sentido da vida, da minha vida, estava nas mãos de outra pessoa e fiz disso a minha verdade, o meu motivo de estar no mundo. Acho que nada poderia ter sido mais frustrante e imaturo.
Depois de algum tempo, me sinto pronta pra escrever sobre isso. Não o fiz antes por medo das dores inevitáveis, das lembranças esmagadoras, do sofrimento instantâneo e das lágrimas inoportunas.
Mas aqui estou, dispondo-me a falar sobre algo que tirou de mim, por certo tempo, o significado e sentido da vida.
Sim, era verdadeiro, intenso, mais que tudo e para sempre. Era... Até o dia que deixou de ser. E acredite, não deixou de ser quando acabou. Ou não acabou quando deixou de ser... Não importa muito... O que importa é que, como muitas outras coisas, deixou, partiu, morreu.

Naquele dia eu preferi acreditar que tudo não passava de um sonho ruim, de uma brincadeira sem graça, de uma cilada desse tal acaso que nem sempre agrada.
Foi como se em poucos minutos tudo aquilo que eu tomei como sentido tivesse ido embora.

É, foi isso.

Perder e ter o que fazer é sempre pior do que perder e não poder fazer mais nada. Sabe por quê? Porque eu podia ter feito alguma coisa naquele dia, dias antes ou dias depois, mas poderia sim... E sabe qual o pior? Eu sabia disso! E não fiz!
Mas se eu sabia como fazer pra ter de volta o que eu tinha perdido, por que diabos então eu não fiz?
Tá, eu sofri muito quando finalmente teve fim, por mais redundante que isso seja. Cheguei a dizer que foi a pior coisa que tinha acontecido comigo em 20 anos. Quem esteve por perto pode perceber um pouco do que eu sentia.

Mas ainda assim, se era o que eu queria por que eu não fiz o que tinha que ser feito?

Exato, não era o que eu queria!

Talvez muitos daqueles que me agüentaram nesses tempos estejam agora com vontade de me bater, de me dizer: EU NÃO TE DISSE? De me sacudir gritando: ENFIM, NÉ?
Mas eu disse a vocês que precisava do meu tempo, né? E se não fosse cada um que me aturou eu nunca chegaria a essas conclusões.

Mas voltando:

Não era o que eu queria, era a minha única opção! A salvação da minha vida e a remissão dos meus piores pecados. Era o que me sustentava, meus braços, pernas, olhos e tudo mais.
Era tudo de mais perfeito que poderia existir. Algo que ninguém conseguia entender ou explicar! Era como se o meu inferno virasse céu, como se ao meu lado e em todas as partes reinasse um sentimento que nem eu sabia o que era e teimava em chamar de amor maior do mundo.
Mas ele se foi e eu vivi! Então não poderia ter sido minha vida, certo? Claro que não!
Era só a minha certeza! A minha garantia de vida sempre feliz. Ó tédio!
Eu quero mais, eu quero a incerteza que me movimenta, eu quero a dúvida que não me deixa dormir, eu quero o medo que me atormenta, eu quero o risco, eu quero o que não conheço, o que eu não posso ver, nem imaginar. Eu quero ócio, eu quero o vazio, eu quero o que me faz querer, eu quero a vida, seja ela como for, eu quero a minha vida de coisas incertas que me fazem rir e chorar, que me fazem amar.
Não, não era o que eu queria, era só o mais fácil que eu tinha. Era só meu esconderijo do mundo, meu porto (nada) seguro!
Os meus princípios não precisam de sentido e nem de caminhos, os meus sonhos são meus e é responsabilidade minha fazer deles o meu motivo. A minha felicidade não vem acompanhada de um amor, e os meus dias não dependem de outros pulmões. O sol que vejo é meu, a vida que levo é minha e comigo estão todos aqueles que constroem a minha paz.

Do muito que chorei trago o meu alívio, da dor que senti trago meu sorriso, antes dependente, hoje leve. Essa luta não é minha, a certeza não faz parte de mim, o certo só me assusta.
Entendi a essencia da perfeição! E nego! Eu não quero a perfeição, ela estraga, tem prazo de validade e, na verdade, não vale de nada!

Hoje eu prefiro acreditar que tudo não passou de um sonho bom, de uma gota infalível de realidade, de um presente desse tal acaso que nunca me deixou na mão!

Não mudaria nada do que vivi, apenas aprendi que eu não preciso querer tudo o que tenho!
Eu não tenho nada além de mim, o resto é opcional.